Como estreitar o relacionamento entre a comunidade PretUX e o mercado de trabalho?

Camila Mello
7 min readDec 27, 2020

--

Um estudo de caso de UX design visando a promoção da equidade racial no mercado de trabalho.

imagem de um homem negro com duas mulheres negras olhando para a tela do computador.
Fralda @NappyStock

Desafio

“Como estreitar a relação entre a comunidade e o mercado de trabalho”

O tema do desafio foi proposto pela PretUX que é uma ação afirmativa sem fins lucrativos que tem como objetivo inserir pessoas pretas no mercado de tecnologia com foco na área de UX design (experiência do usuário), por meio de apoio emocional e qualificação profissional. Foi desenvolvido durante o dia 11/12/2020 até o dia 16/12/2020 por Camila Alves, Indaiá Militão, Jéssica Araújo, Katarina Barbosa, Maiara de Souza Costa e Matheus Soares. O estudo de caso foi supervisionado por Jeff Gomes, fundador da iniciativa.

Foto de rosto das cinco pessoas que participaram do projeto

O problema

De acordo com uma pesquisa realizada pela QuemCodaBr da PretaLab, o mercado de tecnologia é representado por homens ( 68% ), enquanto as mulheres são 31,5%. Pessoas brancas representam 58,3% dos profissionais, apenas 36,9% são pessoas negras. Sobre a falta de diversidade nas equipes, em 32,7% dos casos, não há nenhuma pessoa negra nas equipes de trabalho e, em 68,5% dos casos, elas representam no máximo 10% dos membros.

Segundo uma pesquisa realizada pela indique uma preta (2020), as mulheres negras têm as piores condições no mercado de trabalho e recebem menos da metade do salário de homens brancos

A desigualdade encontrada no mercado de trabalho é estrutural, as pessoas pretas em sua maioria ocupam cargos operacionais, têm renda menor do que um salário mínimo e são menos de 4% em cargos de liderança. Para promover mudanças significativas desse cenário, é essencial que as empresas aceitem que isso é um problema e percebam que existem benefícios em ter equipes diversas e passem a adotar políticas de diversidade e inclusão para promover a equidade no mercado de trabalho.

Metodologia

Devido ao prazo que tínhamos para desenvolvimento e entrega do projeto (5 dias), utilizamos a metodologia Design Sprint e as seguintes etapas: Desk Research, Matriz CSD, Pesquisa Quantitativa, Personas, Brainstorming, Matriz MoSCow e Protótipo.

1º dia — Desk Research

Primeiramente realizamos a Desk Research para entendermos mais sobre o problema de desigualdade racial no mercado de tecnologia e a relação das empresas sobre essas questões. Encontramos dados que nos levaram a entender mais a fundo o problema, conseguimos dados como

“Trabalhadores negros enfrentam mais dificuldade de encontrar um emprego se comparados a trabalhadores brancos, mesmo quando possuem a mesma qualificação. Quando trabalham, recebem até 31% menos”, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Matriz CSD

Fizemos a matriz CSD para mapear quais são as certezas, suposições e dúvidas acerca do problema e das informações extraídas da Desk Research. A partir das suposições e dúvidas elaboramos as perguntas da pesquisa quantitativa.

imagem da matriz CSD com vários post-its escritos com as certezas, suposições e dúvidas.

2º dia — Pesquisa Quantitativa

Disponibilizamos uma pesquisa quantitativa por meio de um formulário nas comunidades PretUX e UX para minas pretas, para entender a realidade das pessoas que já atuam na área e as que estão em busca de seu primeiro emprego em UX designer. Tivemos um total de 40 respostas que nos mostrou os seguintes resultados:

  • 37% das pessoas tem de 30 a 40 anos;
  • 58% das pessoas possuem ensino superior completo;
  • 68% se consideram UX design júnior;
  • 42% tem conhecimentos intermediários em inglês;
  • 58% estão procurando a primeira oportunidade na área de UX.

Com as perguntas específicas para as pessoas que ainda não trabalham na área, conseguimos os seguintes dados:

  • 72% das pessoas já desenvolveram um case de UX;
  • 72% nunca participaram de um processo seletivo na área de UX;
  • 78% sentem dificuldades em lidar com processos seletivos;
  • 50% percebem que as vagas de UX solicitam conhecimentos em UI design.

Com as perguntas para as pessoas que já trabalham na área, conseguimos os seguintes dados:

  • 54% das pessoas não trabalham com outra pessoa preta na equipe;
  • 61% não tem diversidade na equipe;
  • 54% não recebem treinamento da empresa;
  • 61% percebem que é difícil ter progressão de carreira.

3º dia — Personas

Com base nos resultados da pesquisa quantitativa criamos duas personas que representam com mais proximidade os perfis que temos dentro das comunidades.

Jornada do usuário

Definimos que a Karoline Santos é a persona principal, já que a maioria das pessoas da comunidade são júnior em busca da primeira oportunidade na área, de acordo com os dados levantados na pesquisa quantitativa. A jornada começa quando a pessoa entra na comunidade em busca de mais conhecimentos, dicas e trocas de experiência sobre UX design. Depois disso ela poderá participar de processos seletivos de bolsas de estudos, mentorias, terá acesso ao compartilhamento de vagas, palestras e eventos sobre UX e assuntos relacionados. Também terá uma rede de apoio para compartilhar sobre suas vivências e experiências.

Brainstorming

Com as personas definidas, fizemos um brainstorming para gerar ideias sobre potenciais soluções. Decidimos focar nas soluções do problema dentro do perfil de pessoas que estão em busca da primeira oportunidade na área de UX.

Algumas soluções apontadas no brainstorming:

  • Organizar mini cursos sobre trilhas de conhecimentos, por exemplo: UX Design, UI Design;
  • Dicas de como documentar processos ou estudo de caso;
  • Dicas de como montar portfólio;
  • Oferecer palestras para empresas interessadas em diversidade e inclusão.

4º dia — Matriz MoSCoW

Utilizamos a Matriz MosCoW para priorizar as potenciais soluções definidas anteriormente.

Para resolver o problema da distância entre a comunidade e o mercado de trabalho, priorizamos 3 potenciais soluções:

  1. Campanhas online nos canais de comunicação da PretUX para atrair mais pessoas interessadas em serem multiplicadores de conhecimentos sobre UX (experiência do usuário) para promover o desenvolvimento de habilidades e competências profissionais entre as pessoas que fazem parte da comunidade.
  2. Parceria com empresas, recrutadores e líderes dispostos a promover a diversidade e inclusão;
  3. Oferecer consultoria para empresas sobre diversidade e inclusão focado na responsabilidade social e pensando em inovação e criatividade a partir de equipes mais diversas.

5º dia — Protótipo da campanha nas redes sociais

Com as potenciais soluções priorizadas, desenvolvemos o protótipo do modelo de campanha para atrair pessoas da área de tecnologia interessadas em propagar conhecimentos sobre UX (experiência do usuário) dentro da comunidade, que seria divulgada no LinkedIn, instagram e demais canais de comunicação da iniciativa. A ideia em atrair profissionais da área dispostos a multiplicar seus conhecimentos e experiências, seria o primeiro passo para estimular o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades que o mercado de trabalho procura, oferta de conteúdo gratuito e acessível, fortalecimento da comunidade e engajamento para atrair vagas e empresas aliadas à causa.

Para a criação do protótipo consideramos as cores, tipografia e tom de voz da marca para criarmos as identidades visuais da campanha.

O que aprendemos com o desenvolvimento do projeto?

A promoção da equidade no mercado de trabalho é algo muito importante e urgente e se faz necessário continuar promovendo as soluções que identificamos durante o estudo de caso para atingirmos os resultados esperados e atender o objetivo da PretUX que é dar apoio emocional, qualificar e inserir pessoas pretas na área de UX design.

Através do desenvolvimento da Sprint e das ferramentas que utilizamos no projeto, foi muito rico para entendermos de forma quantitativa a realidade dos profissionais negros que estão empregados na área e a percepção das pessoas que pretendem migrar para a área de UX. Mas podemos aprofundar ainda mais os resultados realizando entrevistas com as pessoas participantes da comunidade para escutar suas narrativas, opiniões e motivações.

Fonte das pesquisas

QuemcodaBR:https://assets-global.website-files.com/5b05e2e1bfcfaa4f92e2ac3a/5d671881e1161a6d2b8eb78b_Pesquisa%20QuemCodaBR.pdf

Indique uma preta: https://readymag.com/u1818798514/2293759/7/

--

--

Camila Mello

Sou filósofa nós tempos livres e as vezes escrevo. Sou entusiasta de novas culturas e inovação, amo viajar e guitarras.